Entrevista do Kaká no Real Madrid TV

“Minha motivação é voltar a ter um alto rendimento e ser um jogador decisivo”.

Kaká começou a sua terceira temporada no Real Madrid cheio de otimismo. O meio-campista está oferecendo seu melhor desde que chegou ao clube branco e segue ganhando carinho e atenção. O brasileiro foi o protagonista do Programa do Real e explicou a mudança de seus sentimentos em relação ao campo: "Estou desfrutando outra vez do futebol. Antes o campo era muito largo, tudo parecia difícil, mas agora voltou a ser um prazer".

Por que você acha que as pessoas te admiram tanto?

Penso que são por algumas coisas que consigo transmitir jogando futebol e fazendo entrevistas. Eu sou assim, não mudo a minha maneira de ser, e pouco a pouco as pessoas se inteiram disso. Nos últimos anos as coisas no futebol não me saíram como eu gostaria, mesmo assim, as pessoas continuaram me apoiando como podiam e crendo em mim.

Como você se define?

Eu sou muito sincero, honesto, e ao passar por momentos tristes, eu tento ser alegre. Os meus valores são família, amigos... Quando você está em um nível muito alto é fácil para as pessoas querem estar com você. Mas, quando passa por um mal momento, sabe quem você é e quem de verdade quer ficar do seu lado.

O que você faz para descansar?

Jogar futebol, treinar todos os dias e, embora a concentração seja às vezes difícil, se você tirá-la sinto falta dela. Estive seis meses sem me concentrar-me e estranhei. Eu também gosto de estar com minha família, esposa e filhos. Os filhos são incríveis, um amor incondicional que você não tem, até que eles nascem.

No seu começo, houve um professor que aconselhou a sua mãe a lhe colocar em uma escola de futebol...

Eu jogava no Colégio Batista do Brasil e um dia um professor disse à minha mãe que eu me destacava jogando futebol que os demais. Ele sugeriu que me matricula-se em uma escola, minha mãe buscou e comecei.

É verdade que durante o dia você jogava futebol e a noite você estudava?

Isso foi no final. A principio eu estudava pela manhã e depois treinava à tarde. Depois passei a treinar de manhã e estudar a noite. Finalmente, treinei de manhã e a tarde e estudava a noite.

Teve problemas de crescimento quando era pequeno?

Com doze anos todas as crianças eram muito mais altas do que eu e depois de alguns testes vimos que tinha dois anos de atraso na idade óssea. Diante disso, só bastava esperar. O São Paulo fez um trabalho com os médicos para ver se teria problemas, me disseram que não e afinal eu cresci.

"Ocasiões como o dia da minha apresentação só acontecerá neste clube", disse o brasileiro.

Se não fosse jogador de futebol, o que seria?

Eu sempre quis ser jogador de futebol. Jogava futebol na sala, de todos os tipos. Com 15 anos, disse a mim mesmo que tudo seria secundário, ir para o final e ser um jogador de futebol se não, teria sido o mesmo que meu pai, um engenheiro. Ele é um grande exemplo para mim, sempre quis fazer as coisas certas, com seriedade e integridade.

Aos 18 anos teve um susto que quase o impediu de cumprir esse sonho.

Era pequeno no Brasil, e estava suspenso do próximo jogo. Deram-me dias livres e eu fui para a casa dos meus avós. Onde há clubes com tobogãs e brincando com o meu irmão me atirou de cabeça e eu bati a minha no fundo da piscina. Fui ao hospital e me deram pontos. Logo que cheguei a SP, treinei e meu pescoço começou a doer muito. Foram feitos exames e descobriram que tinha quebrado a sexta vértebra do pescoço. O médico me disse que eu era sortudo de continuar jogando futebol e caminhando.

Quando se deu o salto para a primeira equipe...

Ao voltar eu era um substituto para o júnior e concordaram que o treinador da primeira equipe do São Paulo queria um meio-campista. O técnico não quis dar a titularidade e deu a reserva, que era eu. Desde então, eu não voltei.

E em 30 julho 2009, aquele garoto olha para o Santiago Bernabéu pelo túnel à espera de sua apresentação...

Eu estava tão animado naquele dia, essas coisas só são possíveis em um clube como o Real Madrid. O mais próximo que eu vivi foi com a seleção brasileira, mas isso é de vez em quando. As coisas únicas do Madrid passam umas 60 ou 70 vezes por ano. Quando cheguei e me disseram que havia 30 ou 40 mil pessoas, eu disse que não podia ser. Só para me ver? É muito difícil de explicar. A excitação quando você sai e as pessoas  ...é impressionante.

Quando a vida lhe põe a prova e seu nível de jogo não é o esperado, como se luta contra isso?

O que me motiva é o sonho de jogar nesta equipe e que as coisas vão bem. Todo mundo quer ganhar aqui, mas eu gosto de jogar. O primeiro ano eu tive problemas no púbis e, logo, as pessoas disseram muitas coisas sobre a Copa do Mundo. O segundo foram os problemas no joelho e dúvidas sobre mim ... No verão eu podia ter ido, tentado outro clube, outro campeonato, mas eu sentei com o treinador que me disse que queria contar comigo nesta temporada e Florentino também. O presidente um dia me perguntou qual era o meu problema aqui e eu disse a ele que era eu. Fisicamente eu não estava bem em campo, as coisas antes me saíam de maneira dinâmica e natural e eu me tornei muito estático, previsível.

Você tem em mente a ideia de devolver a confiança demonstrada pelo presidente ou Mourinho, quando as pessoas pensavam que já não existia mais Kaká como jogador?

Falam sobre a dívida que tenho com os fãs. Eu quero ganhar para essas pessoas, pois sempre acreditaram em mim. Minha família, amigos. Tudo o que eu estou fazendo é para que essas pessoas tenham a alegria de ver-me jogar bem novamente. Nesta temporada, comecei bem, as pessoas falam sobre o jogo do Ajax, mas este encontro é a consequência final. Nos outros dias eu joguei 10, 15 minutos e eu fui bem. Minha motivação é voltar a ter um alto rendimento e voltar a ser um jogador decisivo. Que ao chegar ao final da temporada diga que valeu a pena.

Chegou a chorar quando as coisas não saíam?

Muitas vezes porque não entendia a razão. Busquei um perfil clássico de atleta. Dormir bem, me cuidar e etc. Contudo, jogava e as coisas não saíam. As vezes eu jogava e logo ao chegar em casa treinava sozinho para ver se fisicamente voltava a ter condição. Hoje o futebol é muito exigente na parte física. Se não os rivais te comem. Agora você vê os frutos desse trabalho.

Não só há de volta o Kaká, como também seu sorriso. É o seu momento mais feliz desde que está no Real Madrid?

Desde a apresentação sim. E, sobre o campo é agora. Estou disfrutando outra vez do futebol. Antes o campo era muito largo, tudo parecia difícil, então não era um prazer. Agora voltou a ser.

Como é o vestiário do Real Madrid?

É ótimo, há um ambiente muito bom. Eu, por exemplo, me dou bem com Carvalho, mas isso não quer dizer que não me dou bem com os espanhóis. Há uns que são mais próximos que outros, mas em geral todos são geniais, existe muito respeito. No final brincamos com os rumores que dizem que se damos mal. Se o Madrid, no final da temporada triunfar, verão que o vestiário é muito forte.

E, Mourinho?

Eu só posso dizer coisas boas sobre ele. Tinha tudo para ajudar a matar-me. Um jogador que tem uma grande responsabilidade, não está bem, nós vendemos, trazemos outro, não é um jogador que eu tinha trazido. Tinha tudo e no final, sempre me ajudou. Também se falou muito do que a imprensa dizia. É normal no futebol que o treinador tenha confiança nos jogadores, mas essa confiança se ganha no campo e nos treinamentos. Eu creio que estou ganhando a confiança do treinador pouco a pouco. Tem sido muito difícil porque tive treinamentos que para mim eram um desastre. Nunca foi um problema dele, e sim meu. E, no final sempre esteve comigo, me dizia as coisas, me ajudava, me chamava, me dizia para ter paciência, tranquilidade. E o resto da comissão técnica também. A parte psicológica é fundamental no futebol e este treinador e a comissão técnica tem conseguido fazer muito bem.

O que você quer dizer para o Real Madrid?
Quero agradecer pelo apoio porque nós começamos bem a temporada, as pessoas sentem a equipe e o Real Madrid, estão com o clube porque notam que temos uma grande equipe e treinador.  Contra o Rayo recebemos um gol aos quinze segundos, mas as pessoas sentiram que a equipe queria voltar e se puseram a ajudar e a gritar, começando uma nova sequência vencedora do Real Madrid.

Chegaram milhares de perguntas para você dos apaixonados pelo Real Madrid e vamos fazer algumas. A primeira diz: Você acha que esta equipe está focalizada para vencer a Décima?

A equipe está forte mentalmente para vencer a Décima. No ano passado ganhamos a Copa do Rei, mas isso veremos no final. Vejo a equipe muito madura para ganhar coisas importantes.

Desde nos Estados Unidos te perguntam se voltará para a Seleção Brasileira

Tenho objetivos pessoais. Em princípio, o primeiro é voltar a jogar e ter continuidade de boas partidas. Merecer a voltar para a seleção é outra das minhas metas pessoais.

Por último, te perguntam que você pensa de Özil.

Fenomenal, não temos problemas em jogar juntos, ele é muito inteligente. É uma realidade, mas ainda tem um futuro grandioso. É elegante, tem visão de jogo, se equivoca pouco e isso é algo muito positivo.

Tumblr Kaká Carol Sempre

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Fonte: Real Madrid